{"id":156,"date":"2024-03-13T17:30:21","date_gmt":"2024-03-13T17:30:21","guid":{"rendered":"https:\/\/coopercarbono.com\/?p=156"},"modified":"2024-03-13T17:30:37","modified_gmt":"2024-03-13T17:30:37","slug":"o-que-e-o-credito-de-carbono","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.coopercarbono.com\/2024\/03\/13\/o-que-e-o-credito-de-carbono\/","title":{"rendered":"O que \u00e9 o cr\u00e9dito de carbono?"},"content":{"rendered":"\n

Entenda o mercado que pode gerar recursos para quem mant\u00e9m a floresta em p\u00e9<\/h1>\n\n\n\n

Cr\u00e9ditos de carbono s\u00e3o unidades de medida que representam a redu\u00e7\u00e3o de uma tonelada de emiss\u00f5es de di\u00f3xido de carbono (CO2) ou seu equivalente em outros gases de efeito estufa.<\/h2>\n\n\n\n

Toda atividade humana depende de recursos da natureza. E aquelas que usam combust\u00edveis f\u00f3sseis ou desmatam, al\u00e9m de extrair, ainda devolvem para a atmosfera\u00a0gases de efeito estufa (GEE)<\/strong>\u00a0que provocam\u00a0aquecimento global\u00a0<\/strong>e\u00a0eventos clim\u00e1ticos extremos<\/strong>.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 consenso entre os cientistas que o mundo precisa\u00a0reduzir e eliminar\u00a0as fontes que emitem esses gases, sobretudo di\u00f3xido de carbono (CO2), metano (CH4) e \u00f3xido nitroso (N2O).<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Plantio de mudas para ampliar \u00e1rea florestal \u00e9 estrat\u00e9gia para sequestrar carbono; regulamenta\u00e7\u00e3o mercado de cr\u00e9ditos de carbono no Brasil est\u00e1 em debate no Senado.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Para os casos em que isso n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel agora, os cr\u00e9ditos de carbono surgiram como uma forma de compensar as emiss\u00f5es de GEE<\/strong>: empresas ou pa\u00edses que conseguem deixar de despejar gases de efeito estufa na atmosfera vendem esse servi\u00e7o prestado. Em geral, cada unidade de cr\u00e9dito de carbono \u00e9 igual a uma tonelada de di\u00f3xido de carbono (CO2) ou seu equivalente em outros gases que deixou de ser emitida.<\/p>\n\n\n\n

Abaixo, neste texto, voc\u00ea vai saber em detalhes:<\/p>\n\n\n\n

    \n
  1. Por que os cr\u00e9ditos de carbono foram criados?<\/li>\n\n\n\n
  2. O que s\u00e3o os mercados de cr\u00e9dito de carbono?<\/li>\n\n\n\n
  3. Como funciona o mercado volunt\u00e1rio de cr\u00e9ditos de carbono?<\/li>\n\n\n\n
  4. O que s\u00e3o os projetos de cr\u00e9dito de carbono de redu\u00e7\u00e3o do desmatamento?<\/li>\n\n\n\n
  5. Poss\u00edveis falhas e benef\u00edcios desses projetos<\/li>\n\n\n\n
  6. Qual \u00e9 a proposta do governo para regulariza\u00e7\u00e3o do mercado de carbono?<\/li>\n<\/ol>\n\n\n\n

    1. Por que os cr\u00e9ditos de carbono foram criados?<\/h2>\n\n\n\n

    Em 2022, segundo a Ag\u00eancia Internacional de Energia, o mundo bateu um novo recorde com a emiss\u00e3o de 36,8 bilh\u00f5es de toneladas de gases do efeito estufa. Essa polui\u00e7\u00e3o acontece por meio de atividades industriais, uso de combust\u00edveis f\u00f3sseis (como gasolina e diesel), queima de carv\u00e3o para gera\u00e7\u00e3o de energia el\u00e9trica, cria\u00e7\u00e3o de animais para pecu\u00e1ria, al\u00e9m de desmatamentos e queimadas, entre outros.<\/p>\n\n\n\n

    O ac\u00famulo de gases do efeito estufa na atmosfera j\u00e1 levou a um aumento de 1,1\u00baC na temperatura m\u00e9dia do planeta<\/a>, na compara\u00e7\u00e3o com as temperaturas pr\u00e9-industriais. Esse aquecimento vem provocando as chamadas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas: subida do n\u00edvel do mar e aumento da frequ\u00eancia e intensidade de eventos extremos est\u00e3o entre as consequ\u00eancias.<\/p>\n\n\n\n

    Desde 2015, dezenas de pa\u00edses se comprometem, por meio do Acordo de Paris<\/a>, a reduzir suas emiss\u00f5es, a fim de evitar que a temperatura m\u00e9dia do planeta ultrapasse, at\u00e9 o fim deste s\u00e9culo, 2\u00baC de aquecimento na compara\u00e7\u00e3o com as temperaturas pr\u00e9-industriais — o que agravaria ainda mais os efeitos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

    Em 2021, um estudo apontou o Brasil como o quarto maior emissor hist\u00f3rico <\/a>(principalmente por causa do desmatamento), atr\u00e1s apenas de Estados Unidos, China e R\u00fassia.<\/p>\n\n\n\n

    \u00c9 nesse contexto que empresas tamb\u00e9m vem publicando suas pr\u00f3prias metas para chegar \u00e0 neutralidade de carbono ou ao chamado \u201ccarbono zero\u201d, ou seja: zerar as emiss\u00f5es geradas por suas opera\u00e7\u00f5es. O di\u00f3xido de carbono \u00e9 o principal g\u00e1s do efeito estufa.<\/p>\n\n\n\n

    No Brasil, 77% das 80 principais empresas j\u00e1 publicaram alguma meta de corte de emiss\u00f5es, segundo a consultoria McKinsey. A redu\u00e7\u00e3o pode ser alcan\u00e7ada pela descarboniza\u00e7\u00e3o das opera\u00e7\u00f5es, por exemplo, adotando a eletrifica\u00e7\u00e3o de alguns processos ou tecnologias menos emissoras. Essas medidas s\u00e3o parte da chamada\u00a0transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

    2. O que s\u00e3o os mercados de cr\u00e9dito de carbono<\/h2>\n\n\n\n

    O cr\u00e9dito de carbono funciona como um mecanismo de transfer\u00eancia de recursos que visa promover a\u00e7\u00f5es para enfrentar o aquecimento global e atingir as metas de redu\u00e7\u00f5es de emiss\u00f5es. Como j\u00e1 mencionado, um cr\u00e9dito de carbono equivale a uma tonelada de di\u00f3xido de carbono.<\/p>\n\n\n\n

    O valor de cada cr\u00e9dito depende do mercado no qual ele \u00e9 negociado: regulado ou volunt\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

      \n
    • Mercados regulados: <\/strong>os governos (seja nacional, regional ou estadual) determinam metas ou limites de emiss\u00f5es para as empresas emissoras que devem ser cumpridos por lei. Aquelas que conseguem emitir menos que o teto estabelecido podem vender seus cr\u00e9ditos de carbono \u00e0s que excederem o limite. Nesse caso, o pre\u00e7o do cr\u00e9dito \u00e9 definido pela inst\u00e2ncia reguladora.<\/li>\n\n\n\n
    • Mercado volunt\u00e1rio<\/strong>: o valor do cr\u00e9dito \u00e9 negociado em contrato com base nas caracter\u00edsticas do projeto. Nesse mercado, as empresas n\u00e3o possuem obriga\u00e7\u00f5es legais de reduzir emiss\u00f5es, mas aquelas que querem compens\u00e1-las, por causa de suas pr\u00f3prias metas e para atender a demanda do mercado consumidor por empresas comprometidas com o meio ambiente, podem comprar cr\u00e9ditos de carbono.<\/li>\n<\/ul>\n\n\n\n

      3. Como funciona o mercado volunt\u00e1rio de cr\u00e9ditos de carbono<\/h2>\n\n\n\n

      No mercado volunt\u00e1rio, diferentes atores se relacionam:<\/p>\n\n\n\n

        \n
      • Desenvolvedores dos projetos: <\/strong>empresas, organiza\u00e7\u00f5es ou associa\u00e7\u00f5es que elaboram os projetos. Nem sempre essas empresas ou organiza\u00e7\u00f5es s\u00e3o as mesmas respons\u00e1veis pela implementa\u00e7\u00e3o do projeto em determinada \u00e1rea. Tamb\u00e9m pode haver diferentes financiadores de um projeto. Os desenvolvedores n\u00e3o necessariamente s\u00e3o os propriet\u00e1rios das \u00e1reas onde os projetos ser\u00e3o realizados, que podem ser p\u00fablicas ou privadas.<\/li>\n\n\n\n
      • Certificadoras:<\/strong> s\u00e3o organiza\u00e7\u00f5es sem fins lucrativos respons\u00e1veis pelos chamados programas de registro ou padr\u00f5es internacionais, que estabelecem crit\u00e9rios e metodologias para registrar projetos e determinar quantos cr\u00e9ditos de carbono s\u00e3o gerados por eles.<\/li>\n\n\n\n
      • Compradores:<\/strong> empresas com metas de redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00e3o, como a maioria das multinacionais. Essas empresas podem comprar os cr\u00e9ditos diretamente de um projeto ou por meio de uma corretora especializada.<\/li>\n<\/ul>\n\n\n\n

        principal certificadora usada no mercado volunt\u00e1rio \u00e9 a Verra<\/strong>, uma organiza\u00e7\u00e3o sem fins lucrativos com sede nos Estados Unidos respons\u00e1vel pela metodologia que calcula quantos cr\u00e9ditos de carbono um determinado projeto pode gerar, a chamada \u201cVerified Carbon Standard (VCS)\u201d.<\/p>\n\n\n\n

        Em 2021, segundo um relat\u00f3rio do Banco Mundial, 62% de todos os cr\u00e9ditos gerados no mundo eram do tipo VCS, emitidos pela Verra. Outros 9% foram emitidos pela Gold Standard, outra certificadora sem fins lucrativos, com sede na Su\u00ed\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

        4. O que s\u00e3o os projetos de cr\u00e9dito de carbono de redu\u00e7\u00e3o do desmatamento?<\/h2>\n\n\n\n

        Ao longo dos \u00faltimos anos, os setores que mais t\u00eam gerado cr\u00e9ditos de carbono no mercado volunt\u00e1rio s\u00e3o o de energia e o chamado AFOLU (Agricultura, Floresta e Ooutros Usos do solo).<\/p>\n\n\n\n

        Os projetos voltados especificamente para florestas tamb\u00e9m s\u00e3o conhecidos pela sigla REDD+ (Redu\u00e7\u00e3o de Emiss\u00f5es por Desmatamento e Degrada\u00e7\u00e3o Florestal).<\/p>\n\n\n\n

        Segundo um estudo do Observat\u00f3rio de Bioeconomia da FGV, entre 2019 e 2021, projetos de cr\u00e9dito de energia aumentaram em 2,5 vezes a gera\u00e7\u00e3o de cr\u00e9ditos de carbono. J\u00e1 os projetos de carbono florestal do tipo REDD+ quase quadruplicaram o n\u00famero de cr\u00e9ditos gerados no mesmo per\u00edodo.<\/p>\n\n\n\n

        \n

        Os projetos REDD+ s\u00e3o os mais comuns no Brasil, por causa das vastas \u00e1reas de florestas nativas no territ\u00f3rio amea\u00e7adas pelo desmatamento. Em 2021, quase 75% das emiss\u00f5es de gases de efeito estufa do pa\u00eds foram relacionadas ao uso do solo: 49% provenientes do desmatamento e 25% da agropecu\u00e1ria.<\/p>\nSegundo um levantamento do escrit\u00f3rio de advocacia Hernandez Lerner & Miranda Advocacia em Direitos Humanos, at\u00e9 janeiro de 2023, a maioria dos projetos localizados no Brasil e em diferentes est\u00e1gios de registro na Verra eram do setor de floresta, agricultura e outros usos do solo: 87 em um total de 190 iniciativas.

        Projetos de redu\u00e7\u00e3o do desmatamento geram cr\u00e9ditos por evitarem as emiss\u00f5es que seriam causadas em caso de derrubada da floresta. Quando a floresta \u00e9 desmatada, o carbono armazenado nas plantas, \u00e1rvores e no solo \u00e9 liberado para a atmosfera. Preservada, a floresta tamb\u00e9m absorve carbono por meio do processo de fotoss\u00edntese das plantas.No mercado volunt\u00e1rio, para calcular quanto carbono deixa de ser emitido e, portanto, quantos cr\u00e9ditos s\u00e3o gerados, esse tipo de projeto compara dois cen\u00e1rios:

        cen\u00e1rio linha de base: sem o projeto, no qual uma \u00e1rea estaria exposta a agentes do desmatamento. Normalmente, esse cen\u00e1rio \u00e9 baseado na extrapola\u00e7\u00e3o das tend\u00eancias hist\u00f3ricas de emiss\u00f5es na \u00e1rea.
        e o cen\u00e1rio com projeto: no qual haveria controle e monitoramento desses agentes, para garantir a floresta em p\u00e9.

        A diferen\u00e7a entre esses dois cen\u00e1rios \u00e9 a chamada \u201cadicionalidade do projeto\u201d, crit\u00e9rio crucial para que um determinado projeto possa gerar cr\u00e9ditos de carbono. Quanto maior a adicionalidade do projeto, mais cr\u00e9ditos ele gera.
        Uma caracter\u00edstica dos projetos de redu\u00e7\u00e3o de desmatamento \u00e9 a longa dura\u00e7\u00e3o: eles oscilam entre 22 e 44 anos — enquanto os demais tipos s\u00e3o mais curtos, entre cinco e dez anos.

        No caso dos projetos em Portel, por exemplo, as iniciativas prop\u00f5em gerar cr\u00e9ditos ao longo de 30 at\u00e9 41 anos, nos per\u00edodos de 2009 a 2048, 2016 a 2045, 2018 a 2048 e 2019 a 2058.

        Essa longevidade imp\u00f5e v\u00e1rios riscos de incertezas futuras, segundo o escrit\u00f3rio Hernandez Lerner & Miranda Advocacia em Direitos Humanos, como \u201cmudan\u00e7as no cen\u00e1rio pol\u00edtico, flutua\u00e7\u00f5es de mercado e situa\u00e7\u00f5es que podem colocar em quest\u00e3o a implementa\u00e7\u00e3o e sucesso do projeto, como por exemplo desmatamento, queimadas ou eventos extremos e imprevis\u00edveis\u201d.Esses riscos imp\u00f5e a necessidade de monitoramento e verifica\u00e7\u00e3o constantes, o que pode incidir nos custos do projeto.

        5. Poss\u00edveis falhas e benef\u00edcios de projetos de floresta no mercado volunt\u00e1rio

        A l\u00f3gica por tr\u00e1s de projetos do tipo REDD+ \u00e9 oferecer uma alternativa econ\u00f4mica para que as florestas ao redor do mundo valham mais preservadas do que derrubadas ou degradadas por atividades como extra\u00e7\u00e3o de madeira, agricultura e pecu\u00e1ria.

        No esfor\u00e7o global contra a crise clim\u00e1tica, a vantagem da conserva\u00e7\u00e3o florestal \u00e9 dupla: florestas em p\u00e9 n\u00e3o s\u00f3 deixam de ser emissoras dos gases do efeito estufa, como s\u00e3o sequestradoras do g\u00e1s carb\u00f4nico j\u00e1 emitido (as plantas absorvem g\u00e1s carb\u00f4nico no processo de fotoss\u00edntese e libera\u00e7\u00e3o g\u00e1s oxig\u00eanio).

        Isso sem nem entrar no fato de que as florestas ao redor do mundo s\u00e3o a casa de dezenas de povos, al\u00e9m de milhares de esp\u00e9cies de plantas, animais e fungos, trazem in\u00fameros benef\u00edcios (da manuten\u00e7\u00e3o da biodiversidade e do regime de chuvas \u00e0 promo\u00e7\u00e3o da qualidade do ar), al\u00e9m de possu\u00edrem valores culturais, sociais e espirituais que s\u00e3o intang\u00edveis e imensur\u00e1veis.
        No mercado regulado e no \u00e2mbito do programa espec\u00edfico da ONU para REDD+, iniciativas do tipo precisam cumprir uma s\u00e9rie de obriga\u00e7\u00f5es n\u00e3o apenas ambientais, mas tamb\u00e9m sociais, como garantir que as comunidades locais sejam consultadas e participem dos projetos.Tamb\u00e9m precisam respeitar os direitos e os conhecimentos de comunidades tradicionais, como povos ind\u00edgenas. Al\u00e9m de terem mecanismos claros de governan\u00e7a e de reparti\u00e7\u00e3o dos benef\u00edcios dos projetos com os moradores locais.
        No mercado volunt\u00e1rio, a consulta \u00e0s comunidades tradicionais tamb\u00e9m \u00e9 necess\u00e1ria em pa\u00edses como o Brasil, que \u00e9 signat\u00e1rio da Conven\u00e7\u00e3o N\u00ba 169 da Organiza\u00e7\u00e3o Internacional do Trabalho.
        Muitos projetos tamb\u00e9m procuram programas de registro adicionais para atestar que geram outros benef\u00edcios sociais e ambientais para al\u00e9m da redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es, \u00e9 o caso do programa CCBS, que emite cr\u00e9ditos de carbono para projetos que incluem, entre outros, conserva\u00e7\u00e3o da biodiversidade e desenvolvimento comunit\u00e1rio. O CCBS tamb\u00e9m exige a participa\u00e7\u00e3o e o benef\u00edcio das comunidades locais.
        Prote\u00e7\u00e3o dos direitos dos povos e comunidades tradicionais<\/strong>
        No Brasil, o Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal, em conjunto com o Minist\u00e9rio P\u00fablico do Estado do Par\u00e1, publicou, em julho, uma nota t\u00e9cnica com orienta\u00e7\u00f5es para a prote\u00e7\u00e3o dos direitos dos povos e comunidades tradicionais no mercado de carbono. Os \u00f3rg\u00e3os recomendam que:

        o direito \u00e0 consulta livre, pr\u00e9via e informada seja resguardado
        os contratos de cr\u00e9dito tenham interven\u00e7\u00e3o estatal
        a reparti\u00e7\u00e3o de benef\u00edcios advindos pelos projetos seja feita respeitando a autonomia dos povos e comunidades tradicionais
        as empresas certificadoras ou benefici\u00e1rias de cr\u00e9dito de carbono criem auditorias que comprovem a garantia dos direitos das popula\u00e7\u00f5es locais e ouvidorias externas para o encaminhamento de den\u00fanciasRecentemente, v\u00e1rios estudos cient\u00edficos e investiga\u00e7\u00f5es jornal\u00edsticas vem apontando falhas em projetos de cr\u00e9dito de carbono de redu\u00e7\u00e3o do desmatamento negociados no mercado volunt\u00e1rio.
        Uma investiga\u00e7\u00e3o do jornal brit\u00e2nico “The Guardian”, em parceria com a revista alem\u00e3 “Die Zeit”, a organiza\u00e7\u00e3o SourceMaterial e baseada em tr\u00eas estudos cient\u00edficos, concluiu que 94% dos cr\u00e9ditos comercializados por projetos ativos e registrados pela Verra n\u00e3o representaram redu\u00e7\u00f5es reais de emiss\u00f5es de gases do efeito estufa.
        O principal problema encontrado pela investiga\u00e7\u00e3o \u00e9 a distor\u00e7\u00e3o do chamado cen\u00e1rio linha base. Os projetos analisados estariam superestimando esse cen\u00e1rio para aumentar a adicionalidade de seus projetos e, assim, gerar mais cr\u00e9ditos. A Verra defendeu sua metodologia e refutou a abordagem usada pelos estudos.
        Em julho, pesquisadores do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Su\u00ed\u00e7a, revisaram estudos emp\u00edricos que abarcam mais de 2 mil projetos de cr\u00e9ditos de carbono de v\u00e1rios setores no mercado volunt\u00e1rio e conclu\u00edram que apenas 12% do volume total de cr\u00e9ditos gerados representou redu\u00e7\u00f5es reais de emiss\u00f5es.
        Para se ter uma no\u00e7\u00e3o de grandeza: essa lacuna entre o quanto os projetos dizem evitar de emiss\u00f5es e as emiss\u00f5es realmente reduzidas por eles corresponde a quase o dobro do emitido anualmente pela Alemanha. No caso dos projetos do tipo REDD+, apenas 25% dos cr\u00e9ditos gerados corresponderam a emiss\u00f5es realmente evitadas.<\/cite><\/blockquote>\n\n\n\n

        \n

        \u201cO nosso estudo d\u00e1 mais apoio ao encontrado pelo Guardian no sentido de que existem s\u00e9rias quest\u00f5es sobre a verdadeira adicionalidade desses projetos volunt\u00e1rios de carbono florestal\u201d, disse ao g1<\/strong> o professor da Universidade de Cambridge Andreas Kontoleon, co-autor do estudo e de uma das pesquisas que embasou a reportagem do jornal brit\u00e2nico.<\/p>\n<\/blockquote>\n\n\n\n

        Para Kontoleon, nem todos os projetos do setor de floresta s\u00e3o problem\u00e1ticos e as novas pesquisas devem ajudar a compreender o que torna uma iniciativa bem-sucedida.<\/p>\n\n\n\n

        \u201cComo economista, eu n\u00e3o sou ideologicamente contra a esse tipo de projeto de compensa\u00e7\u00e3o [de emiss\u00f5es]. Pelo contr\u00e1rio, eu sou a favor de solu\u00e7\u00f5es de mercado para combater as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. N\u00f3s s\u00f3 precisamos descobrir quais que est\u00e3o funcionando e ficar com essas\u201d, afirmou ele.<\/p>\n\n\n\n

        Al\u00e9m da d\u00favida sobre o verdadeiro impacto dessas iniciativas na redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es, muitos projetos v\u00eam sendo denunciados por amea\u00e7as a povos ind\u00edgenas e comunidades locais.<\/p>\n\n\n\n

        V\u00e1rias reportagens no Brasil e no mundo trouxeram \u00e0 tona den\u00fancias de ass\u00e9dio e coa\u00e7\u00e3o contra essas comunidades, falta de transpar\u00eancia nas negocia\u00e7\u00f5es, acirramento de conflitos fundi\u00e1rios, amea\u00e7as aos modos de vida tradicional e de expuls\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

        Para Juliana Miranda, do escrit\u00f3rio de advocacia Hernandez Lerner & Miranda Advocacia em Direitos Humanos que analisou o cen\u00e1rio do mercado volunt\u00e1rio, \u00e9 importante n\u00e3o generalizar. Ela lembra que, como em qualquer mercado, h\u00e1 bons atores e maus atores tamb\u00e9m no mercado de cr\u00e9dito de carbono.<\/p>\n\n\n\n

        7. Qual \u00e9 a proposta do governo para regulariza\u00e7\u00e3o do mercado de carbono?<\/h2>\n\n\n\n

        Em setembro, foi apresentada a vers\u00e3o mais recente de um projeto de lei que pretende regulamentar o mercado de cr\u00e9dito de carbono no Brasil, criando o Sistema Brasileiro de Com\u00e9rcio de Emiss\u00f5es de Gases de Efeito Estufa (SBCE).<\/p>\n\n\n\n

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        Senado retoma discuss\u00e3o do projeto que regulamenta mercado de cr\u00e9ditos de carbono no Brasil<\/p>\n\n\n\n

        Pela proposta, em an\u00e1lise pelo Senado e constru\u00eddo em conjunto com o Executivo, projetos no mercado volunt\u00e1rio ter\u00e3o que ter metodologias credenciadas pelo \u00f3rg\u00e3o gestor do SBCE, al\u00e9m de serem mensurados e verificados por uma entidade independente.<\/p>\n\n\n\n

        O texto tamb\u00e9m tem um cap\u00edtulo espec\u00edfico para tratar do mercado de carbono volunt\u00e1rio em \u00e1reas de comunidades tradicionais — caso dos projetos em Portel — e prev\u00ea a obrigatoriedade do consentimento das comunidades \u201cresultante de consulta livre, pr\u00e9via e informada\u201d, al\u00e9m de \u201cdefini\u00e7\u00e3o de regra para a reparti\u00e7\u00e3o justa e equitativa\u201d e gest\u00e3o participativa dos eventuais ganhos da comercializa\u00e7\u00e3o dos cr\u00e9ditos.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

        Entenda o mercado que pode gerar recursos para quem mant\u00e9m a floresta em p\u00e9 Cr\u00e9ditos de carbono s\u00e3o unidades de medida que representam a redu\u00e7\u00e3o de uma tonelada de emiss\u00f5es de di\u00f3xido de carbono (CO2) ou seu equivalente em outros gases de efeito estufa. Toda atividade humana depende de recursos da natureza. E aquelas que […]<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":131,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.coopercarbono.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.coopercarbono.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.coopercarbono.com\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coopercarbono.com\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coopercarbono.com\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=156"}],"version-history":[{"count":1,"href":"https:\/\/www.coopercarbono.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":157,"href":"https:\/\/www.coopercarbono.com\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/156\/revisions\/157"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coopercarbono.com\/wp-json\/wp\/v2\/media\/131"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.coopercarbono.com\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=156"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coopercarbono.com\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=156"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.coopercarbono.com\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=156"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}